terça-feira, fevereiro 26, 2013

A mudança para a ala de hematologia

Depois do terceiro quarto na ala de hematologia e outros serviços, que viria a tornar-se hematologia e oncologia, e antes de entrar no segundo ciclo de quimioterapia, a minha mãe foi transferida para a ala apenas de hematologia. Aqui, não só os quartos eram maiores como os cuidados a ter pelos visitantes eram completamente diferentes: para além da máscara e da lavagem das mãos sempre que se entrava, passámos a ter ainda que vestir uma bata para prevenir que a nossa roupa pudesse ser uma fonte de contágio para os doentes ali internados.

A minha mãe despediu-se daquele espaço (onde mudou três vezes de quarto) onde quase todos os dias viu pessoas a desaparecer à sua volta (tinham morrido mas era algo de que ninguém falava directamente). Pessoas que iam e que deixavam no ar a questão: quem seria a próxima pessoa a desaparecer? Para além da dor da quimioterapia, ver as pessoas desaparecer tornava tudo ainda mais real e sabíamos que, a qualquer momento, podíamos perdê-la.

Nos primeiros dias a minha mãe esteve mais animada, era uma ala mais sossegada até porque como o problema oncológico era comum todas as pessoas tinham menos vontade de falar tanto ou tão alto e isso ajudava a que houvesse um melhor ambiente para descansar, algo crucial para a recuperação e para os níveis do sangue levantarem o suficiente para se passar ao próximo ciclo de quimioterapia.

Devo salientar que, sempre que as pessoas conseguiam, era-lhes dito para se deslocarem à sala de refeições para aí comerem. Era uma forma de não estarem sempre deitadas, de conversarem um bocadinho num ambiente mais neutro do que o quarto e também de tentarem não desanimar e restabelecer as forças que ainda tinham. Nesta ala, o horário de visita era mais reduzido, das 16h00 às 19h00, o que significava que não podíamos ajudá-la nos almoços, apenas no jantares. A princípio não nos custou porque ela estava relativamente bem... mas quando começou a piorar foi muito difícil não poder acompanhá-la em todas as refeições.

A D. Maria dos Anjos foi também tranferida para a mesma ala e mesmo quarto no final do dia em que a minha mãe foi transferida e novamente passaram a ser os pontos de apoio de ambas. Mas, na verdade, qualquer pessoa daquela ala tende a apoiar todas as outras desde que com ela tenha qualquer tipo de relação, seja por estar no mesmo quarto, por partilharem a sala de refeições, por se encontrarem  no corredor (quando têm forças para andar e estão autorizados a sair do quarto...).

Sabíamos que vinha aí o segundo ciclo de quimioterapia e tanto nós como a minha mãe estávamos com medo pois sabíamos o que ela tinha passado no primeiro e sabíamos que podia ser pior já que ela estava mais fraca...

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