terça-feira, novembro 14, 2006

"Para onde caminha o guionismo em Portugal?"

Dia 24 de Outubro discutiu-se o guionismo em Portugal. As suas tendências e projectos de futuro foram tema de debate na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Falou-se bastante da telenovela pois é o formato com maior dimensão e visibilidade em Portugal. Mas guionismo em terras lusas não se limita a telenovelas e houve ainda lugar a 'uma perninha' sobre outros formatos.

Guionistas presentes:
- Pedro Lopes, da Casa da Criação;
- João Matos, da DotSpirit;
- João Nunes, das Produções Fictícias;
- Manuel Arouca;
- Paulo Filipe Monteiro, também professor de guionismo na Universidade Nova;
- Rui Vilhena, da Scriptmakers.

Pedro Lopes começou por distinguir a novela como "formato da palavra." Salientou ainda a chegada ao audiovisual e à telenovela de "toda uma linguagem de videoclip e de jogos".

Está-se, visivelmente, numa altura de mudança. A telenovela está diferente, no seu ritmo, na sua linguagem, nos seus personagens. Também a sociedade está em mutação. A telenovela hoje é diferente da telenovela de ontem e será também diferente da telenovela de amanhã. No entanto, a essência mantêm-se e o formato está longe de estar esgotado.

Paulo Filipe Monteiro observou que "as personagens são a chave de um bom guião" e relembrou a necessidade de "captar o dia-a-dia para fazer bons personagens".

A novela pode ensinar e pode pôr as pessoas a pensar. Faz pensar menos do que outros formatos, sem dúvida, mas ainda assim faz pensar. E faz pensar pessoas que, muitas vezes, não consomem outro tipo de formatos. Porque não passar-lhes alguma informação ainda que num formato algo soft?
A verdade é que as pessoas seguem as vidas retratadas nas telenovelas durante vários meses e sabem os nomes dos personagens. Se houver uma personalidade histórica na telenovela, ainda que diferente do que foi a pessoa, se calhar quem consome este formato passa a saber, pelo menos, o seu nome, que ela existe e que teve alguma importância.

João Matos lembrou que até há bem pouco tempo certas palavras eram proibidas: "em 2001, a palavra homossexual era dificil de entrar num guião". João relembrou que um guionista não pode esquecer-se que está a trabalhar para uma indústria que tem as suas regras. No entanto, "é sempre possível fazer alguma coisa". Este argumentista da DotSpirit reforçou a ideia da existência de uma nova linguagem. Escrever um guião é "fazer todos os dias algo diferente. É uma dança entre quem vê e quem escreve" - resume.

Rui Vilhena alertou para a importância de "consumir tudo, principalmente o que se faz lá fora porque, se isso funcionar, vai ser importado". Este guionista da ScriptMakers considera que o que faz um guionista é 50% de técnica e 50% de 'feeling'. "Um guionista tem de preocupar-se com a técnica e acompanhar as tendências; acompanhar a mutação e ter atenção ao ritmo".

Manuel Arouca relembrou o sucesso de "Jardins Proibidos" a série que impulsionou uma maior produção nacional. "Foi talvez uma novela de emoções e por isso teve tanto sucesso. Foi algo que a Globo sempre fez". No entanto, este autor considera que este tipo de novela acaba por saturar e nasce uma necessidade de novelas de autor. " 'Ninguém como Tu' veio quebrar o que era preciso" - realçou. Foi, talvez, a 'lufada de ar fresco' de que já se precisava. Manuel Arouca considera que "a novela vai funcionar sempre ainda que esteja sempre a mudar. Sempre o mesmo cansa".

João Nunes salientou uma nova tendência que passa por criar coisas que possam funcionar em suportes diferentes. "A linguagem tem estado sempre condicionada por motivos técnicos". No entanto, este argumentista das Produções Ficticias constactou que ninguém sabe como se vai escrever para os novos meios. "Ainda está por descobrir a linguagem própria dos novos meios" - sintetizou.

Também a telenovela nasceu na rádio e foi mais tarde transposta para a televisão. Houve necessidade de uma grande aprendizagem e uma consciencialização acerca das diferenças dos suportes e das especificidades de cada medium.

Falou-se ainda de originais versus adaptações e dos limites de certos temas - mas isso fica para uma próxima postagem...

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