sábado, outubro 28, 2006

"Galáxia" da informação diária: que sentido(s)?

Dia 23 de Outubro de 2006 a aula de Análise do Jornalismo foi diferente.
Discutiu-se a galaxia da informação diária colocando a questão: que sentido(s)?

Os intervenientes foram:
- João Palmeiro - Presidente da Associação Portuguesa de Imprensa
- Nuno Henrique Luz - Director do jornal "Metro"
- Miguel Gaspar - Director executivo do "Diário de Notícias"

João Palmeiro coloca a questão do "preço" da informação e diz que "o grande problema dos jornais e revistas pagas são os distribuidores" - a rede de distribuição e a rede de quiosques. O Presidente da Associação Portuguesa de Imprensa reflecte sobre a figura do ardina que "não ia para casa se houvesse uma possibilidade de vender o jornal pois se não vendesse os jornais que tinha, teria de carregá-los". Nota ainda que, dentro das cidades há barreiras à entrada de jornais como as caixas de correio pequenas e as portas fechadas dos condominios.

Nuno Henrique Luz diz que um jornal gratuito "ajuda a ultrapassar uma barreira" ao aproximar as pessoas de um suporte/ área de informação que não achavam que lhes era dirigida porque tinham dificuldades em lê-la. Recorda o êxito dos jornais desportivos e associa-o com a facilidade com que se lêem. O Director do jornal "Metro" concorda com João Palmeiro em relação aos problemas de distribuição. Por isso os gratuitos vão ter com o leitor. Porque as pessoas têm uma vida cada vez mais rápida e não têm, durante o trajecto até ao trabalho, locais onde comprar o jornal.

Miguel Gaspar centrou-se na crise da imprensa dita de referência e avançou problemas de cultura e de foro económico.
"Cultura das redacções" - uma cultura instalada, de acharem que são "mais" do que os jornalistas das redacções de outros jornais. Lançou a questão "será que há capacidade para compreender a mudança de contexto?"
"Cultura das administrações" - Será que "compreendem a mudança?"

Quanto à área económica há que perceber "se existem meios" e como chegar a novos leitores. O Director executivo do "Diário de Notícias" lembrou que há uma "desafectação" nas camadas mais novas.

Miguel Gaspar ressalvou ainda que a agenda está errada, que é "extremamente redundante", normalmente, uma agenda de poderes.
Lembrou ainda que "se perderam algumas coisas positivas que vinham da tradição e que não foram substituidas por outras". Há que voltar "à humildade de não querer meter na cabeça das pessoas aquilo que nós pensamos!"

Miguel Gaspar lembra que os jornalistas têm que sair à rua. "Os jornalistas deixaram de compreender que o seu papel é fazer perguntas e não, dar respostas" - diz.
Recorda ainda que a imprensa tem que evoluir e que não há meios para isso. "A porta de mudança está na abertura à Internet. A questão é perder dinheiro e evoluir ou perder dinheiro e não fazer nada!" Um jornal, mais do que papel, é uma marca, uma marca de credibilidade. "A credibilidade é que dá valor e a credibilidade é maior do que o valor do negócio."
"O valor da comunicação está na desmaterialização das coisas" DN é uma marca que pode continuar a ser marca em outras plataformas. Miguel Gaspar recorda ainda que é errado pensar um medium isoladamente (no mundo de hoje).

quarta-feira, outubro 18, 2006

Um dia a Falar de Imagens na FCSH - Universidade Nova de Lisboa

Uma iniciativa organizada por José Carlos Abrantes com a colaboração do Departamento de Ciências da Comunicação da FCSH.


O dia começou com o primeiro painel sobre "Fabricar Imagens". Monique Sicard, investigadora do CNRS - Paris deslocou-se a Lisboa para esta conferência e para o lançamento do seu livro "A Fábrica do Olhar" , obra que inicia uma nova colecção das Edições 70, "A Construção do Olhar", dirigida por José Carlos Abrantes.

Monique falou das imagens, da sua geneologia e do seu valor simbólico. Aqui fica a desconstrução da palavra regard (olhar em português).

REGARD tem a sua origem no termo etmológico que significava fazer um buraco para olhar para um cano. Significa olhar e significa ainda guardar de novo (desconstrução da palavra francesa - re gard). Partilhou connosco que, em França, os edificios que os donos não conseguem reconstruir são iluminados para não desaparecerem. Pensa-se assim que estão protegidos. É a dimensão de protecção da palavra "regard"

IMAGEM vem do latim imago, o duplo, a cópia do referente, o que persiste depois do referente desaparecer. Discussão ainda sobre a identidade de imagem que, hoje passa pela coisa, esquecendo-nos, muitas vezes, que é apenas a cópia. Esta noção também está ligada ao sujeito alienado que, muitas vezes prefere a experiência mediatizada à experiêcia real. Um caso concreto citado foi o de uma criança que está a assistir a um jogo de futebol no estádio e que fica triste por não poder ver a repetição do golo (o que poderia ver se estivesse a ver televisão).
Esta discussão não foi toda após a conferência de Monique Sicard mas é um tema que foi aqui levantado e que percorreu os assuntos dos vários painéis.

Monique lembrou ainda que a FOTOGRAFIA
foto - luz
grafia - escrita
é a escrita da luz e que, como tal, encarna em si as várias dimensões - fotográfica, televisiva e cinematográfica.

"Fabricar imagens com as palavras", "Fabricar Olhares"

Seguiu-se o painel sobre "Fabricar imagens com as palavras" que contou com a escritora Lídia Jorge que tem o seu livro "A Costa dos Múrmurios" adaptado ao cinema pela realizadora Margarida Cardoso. Lídia Jorge (ladeada por Paulo Filipe Monteiro - Presidente do DCC e por José Carlos Abrantes) veio falar-nos da sua experiência enquanto escritora e da necessidade de se ter uma base literária para uma melhor compreensão das imagens e para escapar à alucinação do terramoto de imagens que invadem, actualmente, as nossas vidas.

Lídia começou por dizer que, "no mundo da literatura, pode dizer-se que, no principio, era a imagem".
Porque antes de cada livro, há uma imagem, fisica ou mental, que impulsiona a escrita. A imagem que, durante 10 anos, não saiu da cabeça de Lidia Jorge e, a partir da qual, se formou o seu livro "A Costa dos Múrmurios", foi uma imagem de uma chuva de Gafanhotos que presenciou em Moçambique, onde esteve durante a guerra colonial.

Lídia Jorge falou também do assombro que a assistiu quando viu pela primeira vez o filme a partir do seu livro. Não era nada como tinha imaginado e a sua primeira reacção foi não compreender. Mas depois percebeu. A literatura e o cinema têm diferentes caminhos e diferentes modos de contar uma história para chegarem aos mesmos sitios e aos mesmos sentimentos. Lidia percebu isso, notou uma grande obra no filme e sente-se agradecida por não ter participado no processo de produção do filme "pois teria sido um erro". Uma aprendizagem que não esquece.

De seguida, teve lugar o painel "Fabricar Olhares" com moderação de Jacinto Godinho, jornalista da RTP e professor da FCSH.

Os intervenientes neste painel foram o professor universitário e critico de cinema, Eduardo Cintra Torres, que veio falar de um cd didáctico encomendado pelo Ministério da Educação, subordinado à compreensão das imagens, cujo titulo é" Ler Imagens".

Beatriz Batarda, actriz, esteve também presente e falou da imagem do actor (onde preza muito a voz como inicio de construção de uma imagem) e ainda, do actor na imagem (da sua experiência e da necessidade de se compreender toda a téncica para melhor construir o personagem).

Ficou no ar a questão "porque não fazer um cd do mesmo género adaptado ao nível universitário e também fazer venda ao público?

"Fabricar o real e o imaginário"

"Fabricar o real e o imaginário" foi o último painel do dia. Com moderação de Maria José Palla, professora do departamento de estudos portugueses e fotógrafa e participação do realizador de filmes de animação Pedro Serrazina e do realizador de documentários Sérgio Treffaut.

Sérgio Treffaut aprentou um excerto do seu filme "Lisboetas", Serrazina apresentou "a estória do gato e da lua". Pedro Serrazina focou ainda a sua formação em arquitectura como forma de explicação de certos modos de concepção.

O debate desenvolveu-se sobre, entre outros temas, o cinema de autor, debate que já tinha sido levantado no painel anterior.

Para uma síntese do dia, ver http://mesticagens.blogspot.com/ onde se encontram excertos das palavras de Catarina Alves Costa, realizadora de documentários e docente do departamento de Antropologia e também de Francicso Rui Cádima, professor do departamento de Ciências da Comunicação e especialista em televisão.